Publicado por: Felipe Demarqui | Maio 31, 2010

Se os Clubes fossem Empresas: São Paulo – Parte 1

Dando continuidade às análises da situação financeira / contábil dos clubes paulistas, agora iremos avaliar os números do São Paulo Futebol Clube. A análise ocorrerá da mesma forma que ocorreu com o Sport Club Corinthians Paulista, sendo dividida em 3 partes.

O São Paulo é considerado um dos times mais bem administrados do futebol brasileiro e esta primeira parte da análise, assim como anteriormente, irá avaliar o Demonstrativo de Resultados do Exercício (DRE) do clube, no ano de 2009, em comparação com o ano anterior. Essa análise nos possibilita identificar quais as principais formas de arrecadação de receitas pelo clube, e analisar se o modelo adota é sustentável no futuro ou não.

As receitas do clube, para seu Departamento de Futebol Profissional¹, no ano de 2009 foram divulgadas no Balanço Patrimonial, conforme abaixo:

Futebol Profissional e de Base – em R$ mil 2009 2008 2009/2008
Direitos de Televisão 37.074 27.320 35,7%
Patrocínio e Publicidade 31.344 18.283 71,4%
Licenciamento e Franquias 6.943 6.001 15,7%
Arrecadação de Jogos 21.411 16.760 27,8%
Premiações em Campeonatos 2.930 1.966 49,0%
Sócio Torcedor 5.314 3.920 35,6%
Lei de Incentivo ao Esporte 0 9.138 -100,0%
Outras Receitas 3.985 4.843 -17,7%
Repasse de direitos federativos 14.431 30.562 -52,8%
Total 123.432 118.793 3,9%
Total – Venda de Jogadores 109.001 88.231 23,5%

Conforme pode ser percebido, o clube paulista obteve, em 2009, uma receita ligeiramente superior (4%) do que no ano anterior. Porém, ao excluirmos os ganhos com vendas de jogadores (repasse de direitos federativos) esse aumento ultrapassa os 20%. Ainda, se excluirmos os ganhos com a Lei de Incentivo ao Esporte (que não é diretamente ligado às operações de futebol do clube), o aumento de 2009 em relação a 2008 alcança 37,8%.

O aumento observado acima pode ser traduzido, principalmente, pelo aumento nas contas de “Patrocínio e Publicidade” e “Premiações em Campeonatos”. Apesar de não ter obtido valores substancialmente maiores na renovação de seu patrocínio com a LG, o clube renovou também com a Reebok, por um valor 30% maior que o anterior (R$20 milhões frente à R$15 milhões). Além disso, outro grande fator de aumento dessa conta foi a melhor utilização da publicidade do clube, através de outras ações que não o patrocínio, a fim de gerar maiores receitas comerciais.

Já a conta de “Premiações em Campeonatos” teve um aumento substancial (mesmo o clube não tendo vencido nenhum torneio), da ordem de 50% devido à terceira colocação do clube no Campeonato Brasileiro do ano passado.

Outra conta que merece destaque é a de “Arrecadação de Jogos”, que também registrou aumento (28%), devido ao time estar em busca do título até a última rodada, mas poderia ter sido ainda maior caso o clube tivesse avançado na Copa Libertadores, competição essa que atrai muito a torcida e normalmente tem ingressos com o valor um pouco mais elevado.

Analisemos agora as principais contas de despesas do São Paulo Futebol Clube:

Futebol Profissional e de Base – em R$ mil 2009 2008 2009/2008
Pessoal (44.590) (32.789) 36,0%
Encargos Trabalhistas (5.969) (4.924) 21,2%
Benefícios (1.943) (1.691) 14,9%
Prêmios (7.870) (7.224) 8,9%
Direito de Arena (1.979) (1.426) 38,8%
Direito de uso de Imagem (16.406) (19.478) -15,8%
Baixa do custo de atletas em formação (5.309) (2.921) 81,8%
Amortização de custo de atletas formados (2.424) (2.144) 13,1%
Baixa de contratos de atletas profissionais (9.813) (13.354) -26,5%
Empréstimos de atletas (2.633) (4.667) -43,6%
Arbitragens, federações, confederações (2.074) (1.925) 7,7%
Despesas com jogos (7.737) (8.023) -3,6%
Participação de atletas em direitos econômicos (2.750) (2.827) -2,7%
Água/Luz/Telefone (2.101) (1.878) 11,9%
Manutenções (521) (468) 11,3%
Materiais (4.568) (4.645) -1,7%
Serviços (4.629) (3.345) 38,4%
Depreciação (1.191) (1.085) 9,8%
Gerais (1.462) (1.396) 4,7%
Provisões para devedores duvidosos (772) 0
Custo de Formação de Atletas 12.779 11.293 13,2%
Total (113.962) (104.917) 8,6%

Podemos observar que, apesar de um aumento em diversas contas, o clube teve retração em diversas outras contas de despesas, registrando um aumento de apenas 8,6% no total de seus gastos.

Assim como ocorreu com o Corinthians, as principais contas que observaram aumento no DRE do São Paulo foram as relacionadas aos jogadores, i.e.: “Pessoal”, “Encargos Trabalhistas” e “Benefícios”.

Porém, diferentemente do que aconteceu com o clube alvi-negro, o clube tricolor conseguiu controlar muito melhor seus gastos, obtendo um ligeiro aumento nas suas despesas.

Em suma, o resultado² do São Paulo fica da seguinte maneira:

Futebol Profissional e de Base – em R$ mil 2009 2008 2009/2008
Receitas 123.432 118.793 3,9%
Despesas (113.962) (104.917) 8,6%
Resultado 9.470 13.876 -31,8%

Fica claro que o pequeno aumento nas receitas em 2009 impactou diretamente em seu resultado final, uma vez que as despesas do clube aumentaram de forma superior. Porém, é importante observar que o clube vem, recorrentemente, diminuído sua dependência às receitas provenientes da venda de jogadores, focando seus esforços em auferir receitas através de outros meios, seja por ações de marketing esportivo (patrocínio, publicidade, venda de camisas e produtos) ou pela atração de mais público aos seus jogos. Dessa forma, o clube fica menos suscetível a externalidades, podendo focar seu planejamento com base em receitas internas (que não dependem de outros agentes para serem geradas) ao invés de ficarem sujeitos à “boa vontade” de clubes europeus que queiram comprar os principais jogadores (fato esse que nem sempre ocorre, e quando ocorre, não necessariamente acontece nos períodos em que o clube necessita).

Também é importante destacar a forma como o clube administrou suas despesas, seja pela provisão de um baixo montante de receitas, seja pela forma de gestão do clube, mas fato é que, em comparação ao Corinthians, o São Paulo conseguiu conter seus gastos de maneira muito mais eficiente, evitando um rombo em seu planejamento, e conseqüentemente um déficit no exercício.

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¹ – As receitas aqui mostradas se referem apenas ao Departamento de Futebol Profissional do clube. O São Paulo ainda tem grandes ganhos com seu estádio, que, no Demonstrativo de Resultado, aparece em uma conta exclusiva para ese fim. Esse assunto será tratado em um post mais adiante.

²- Diferentemente do Corinthians, o São Paulo não demonstra a divisão de seus gastos administrativos / financeiros por departamentos do clube. Por essa razão, não foi possível uma análise mais aprofundada do resultado final do exercício, nos restringindo apenas ao resultado operacional do clube.


Respostas

  1. Felipe,

    Muita boa sua contribuição

    Abs

  2. […] Paulo – Parte 1; Parte 2; Parte […]


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