Publicado por: Felipe Demarqui | Outubro 16, 2010

Casamentos Temporários

Sempre serei a favor de termos grandes ídolos do futebol disputando os campeonatos nacionais. Acredito que os grandes ídolos são a pedra fundamental para o desenvolvimento de um plano de marketing conciso e bem estruturado dentro dos clubes, sendo o primeiro passo para a libertação das receitas de direitos de transmissão e venda de jogadores, que hoje imperam no futebol brasileiro.

Porém, depois da volta de Robinho para o Santos e do recente anúncio de uma possível volta de Kaká para o São Paulo no ano que vem, começo a me questionar qual a efetividade dessas voltas pontuais para os clubes. Que fique clara a grande diferença entre os casos citados e os de Ronaldo e Roberto Carlos no Corinthians, Valdívia e Kleber no Palmeiras, é a extensão/forma de contrato. Enquanto Robinho e, talvez, Kaká voltariam por um curto período (6 meses de empréstimo), os outros assinaram compromissos de longo prazo.

As principais perguntas são:

  • Até que ponto é possível traçar um plano e desenvolver ações de marketing no curto prazo?
  • Qual a receptividade do torcedor quanto a isso?
  • Como reverter possíveis adversidades?

A volta de grandes ídolos para os clubes significa também um aumento exorbitante da folha de pagamento. Os clubes brasileiros, da forma como trabalham, seriam incapazes de saldar suas pendências com esses jogadores sozinhos. Dessa forma, recorrem à ajuda de investidores externos, empresas com as quais buscam parcerias: por um lado a empresa pode explorar a imagem do jogador (que por ser um ídolo tem um grande apelo) e por outro, ajuda a saldar os débitos no final do mês. Porém, encontrar empresas dispostas a atuar dessa forma, em períodos de tempo curtos, nem sempre é uma tarefa fácil.

Suponhamos que um jogador tenha parte do seu salário pago por uma empresa parceira, no montante de R$500 mil, e que seu contrato de empréstimo seja de 6 meses. Ao final do período, a empresa irá gastar R$3 milhões com esse jogador. Isso equivale a dizer que a empresa tem 6 meses para buscar um retorno (aumento de vendas e/ou reconhecimento de marca), no mínimo, igual ao montante gasto, para igualar o rendimento. Parece uma estratégia arriscada.

Ao mesmo tempo, os clubes também têm pouco tempo para desenvolver ações de marketing com o jogador. Obviamente, as receitas de matchday devem aumentar instantaneamente, tanto pelo aumento de público quanto por aumento nos preços de ingressos. Porém, receitas do grupo commercial não são inerentes apenas ao clube e seus torcedores, e dependem também do interesse de fontes externas.

Ao mesmo tempo, temos o lado do torcedor. É claro que o torcedor sempre age com a emoção e irá querer ver o ídolo em campo, pagando até um pouco mais para isso. Porém, à medida que ele sabe que o jogador está apenas temporariamente no clube, esse interesse pode diminuir. Por isso disse no primeiro parágrafo que os casos de Ronaldo e Robinho são totalmente diferentes: por um lado, o torcedor corintiano tinha o grande interesse em ver o “Fenômeno” em campo, com a camisa corintiana, pois passava a entendê-lo como parte do time, ou como ele mesmo disse, “mais um para o bando de louco”. Quando o torcedor não enxerga esse compromisso do jogador com o clube, e sabe que em pouco tempo ele retornará para seu clube de origem, a ligação torcedor-jogador fica enfraquecida.

Não estou dizendo que a volta de Robinho não gerou aumento de público nos jogos do Santos, porém, acredito que se houvesse um acordo mais longo, esse fato poderia se estender e ter maior magnitude.

O mesmo acontece com a venda de produtos licenciados, que utilizam a imagem do jogador. Com a relação enfraquecida, o interesse na aquisição desses produtos cai, e conseqüentemente as vendas.

É importante lembrar que a vinda desses ídolos não tem apenas o caráter mercantil pelos clubes. Apesar de buscarem rendimentos fora do campo, é interessante que a presença dos jogadores gere resultados dentro de campo também. E, como sabemos, o futebol não é uma ciência exata: o grande jogador pode voltar para o país e não conseguir ter um bom rendimento, por n fatores. Mais uma vez, o fato de haver um contrato de curto prazo pesa contra ele e o clube, já que, no caso de um retorno aquém do esperado, haverá pouco tempo para a reabilitação do jogador. Dessa forma, todos os pontos listados anteriormente ficam em risco maior: quem vai querer aliar sua imagem à um jogador que está jogando mal? Quantos torcedores irão ao estádio para ver um jogador totalmente diferente daquele que jogava na Europa? Quais empresas vão concordar em pagar parte do salário de um jogador pelo qual não vão conseguir obter retorno?

Enfim, todas as questões listadas acima podem ou não ocorrer. De qualquer forma, acredito que os clubes conseguiriam melhores resultados (dentro e fora das quatro linhas) caso buscassem contratos por períodos maiores com esses jogadores. Na minha opinião, todos os agentes do mercado do futebol brasileiro se tornariam mais propensos a atuar de maneira mais ativa junto aos clubes e aos jogadores caso houvesse um alinhamento de longo prazo entre as partes.


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