Publicado por: Felipe Demarqui | Maio 25, 2011

Se os Clubes fossem Empresas: SCCP – 2010.1

Após um ano, serão retomadas as análises dos Balanços Patrimoniais dos clubes paulistas. Mais uma vez, o Corinthians foi o primeiro clube da capital a disponibilizar seus números, e, dessa forma, iniciarei a análise das contas por ele.

Como ocorrido no ano passado, a análise será dividida em 3 partes:

  • A primeira tratará das receitas auferidas e das despesas efetuadas no exercício de 2010 (sendo os números extraídos do Demonstrativo de Resultados do Exercício – DRE)
  • Na segunda, a estrutura completa do Balanço Patrimonial será mostrada, com as composições do Ativo, Passivo e Patrimônio Líquido.
  • Por fim, a terceira parte irá analisar indicadores contábeis, com base nos números exibidos nas partes 1 e 2, ajudando a melhor compreender os dados vistos anteriormente.

 Dessa forma, iniciando a Parte 1, segue abaixo um resumo das receitas do clube nos últimos anos.

Pode-se perceber que houve um salto nas receitas no ano de 2009, devido à chegada de Ronaldo “Fenômeno” ao clube e em 2010, esse crescimento continuou, porém de forma menos acelerada.

Os quase R$ 55 milhões de “Direitos de Transmissão” responderam por 31,7% do total de receitas do clube em 2010, e apresentou um crescimento de 36% frente à 2009. Esse resultado é fruto da participação do time na Copa Libertadores da América: foram transmitidos mais jogos até a eliminação nas oitavas de final frente o Flamengo, o que impulsiona as receitas oriundas da televisão.

Também notamos um aumento significativo nas receitas de “Patrocínio e Publicidade”: se o ano de 2009 foi marcado pelo patrocínio da Batavo, por cerca de R$ 18 milhões (número considerado record naquele ano), 2010 trouxe ainda mais aos cofres do time de Parque São Jorge. O grupo Hypermarcas estampou sua marca no uniforme corintiano por aproximadamente R$ 40 milhões; os contratos pontuais e outras receitas de publicidade ajudaram a conta a alcançar o total de R$ 47 milhões, sendo 27,3% do total de receitas do clube no ano de 2010 (um aumento de 25,7% em relação ao ano anterior).

A conta de “Arrecadação de Jogos” registrou pequeno aumento (6,5%) frente a 2009, enquanto “Premiação em Campeonatos” e “Sócio Torcedor e Outras Receitas” apresentaram retração (-56% e -44,3% respectivamente). Tanto o pequeno aumento de arrecadação, quanto a retração dos números de sócio torcedor podem ser explicados pelo “boom” dessas contas em 2009 (impulsionados pela chegada de Ronaldo). Assim, temos aumentos percentuais pequenos, pois partimos de uma base alta, porém, se compararmos com os números de 2008, veremos aumentos significativos também nessas contas.

 Assim, resumindo os números auferidos pelo Corinthians dentro dos 3 tipos de receitas (de acordo com a divisão feita pela Deloitte em seu relatório anual), teremos o seguinte panorama:

 

Vemos que as receitas de broadcasting ainda têm maior representatividade no DRE corintiano, mesmo dados os aumentos nos outros grupos (matchday e commercial). Não podemos dizer que o clube ainda sofre de grande dependência da televisão, uma vez que suas receitas estão, de certa forma, equilibradas entre os três grupos. Porém, um clube com a segunda maior torcida do país deveria conseguir obter mais receitas nos outros dois grupos e inverter esse panorama, pois existe o potencial de mercado.

Já pelo lado das despesas, também notamos aumento em quase todas as rubricas, totalizando um salto de quase 15% no total de despesas; importante destacar os aumentos da conta de “Pessoal” (quase 20%, impulsionado pela inflacionada folha salarial no ano do centenário) e “Serviços de Terceiros” (mais de 30% frente a 2009).

Diante desses números, temos que o Corinthians obteve um Lucro Operacional (ou seja, tomadas apenas as atividades relacionadas ao Departamento de Futebol Profissional e de Base) 26,2% maior que 2009 (R$ 12,8 milhões vs R$ 10,2 milhões no ano anterior). Porém, ao observarmos o Resultado do Exercício, notamos uma retração no Superávit, fato explicado pelo aumento de Despesas Financeiras.

 Concluindo essa primeira parte da análise, notamos que o Departamento de Futebol do Corinthians consegue atingir o objetivo primário de qualquer empresa: obter lucro no exercício. Porém, analisando mais a fundo as receitas, é possível apontar pontos de melhoria, que poderiam maximizar esse resultado, garantindo um Balanço mais robusto.

  • Desenvolver melhor o mercado (i.e.: aumentar o consumo dentro da sua torcida, tanto nos dias de jogo – matchday – quanto no consumo “espontâneo” – commercial) gerando assim um fluxo de receitas perene, regular e que seja menos impactado pelos resultados em campo.
  • Controlar despesas, principalmente com salários
  • Buscar reduzir seus empréstimos, uma vez que em 2010 foram pagos quase R$ 11 milhões de juros (a rubrica de maior representatividade dentro de “Despesas Financeiras”), o que derrubou vertiginosamente o Superávit do Exercício.

Deixe um comentário

Categorias